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Resposta à AESC ou Vandalismo e Autoritarismo no Cipó


Dia sete de abril fui sozinho para a Serra do Cipó. Meu objetivo era terminar a limpeza da via conquistada no ano anterior. Talvez ainda equipasse uma linha que já tinha vislumbrado.

Ao chegar na base da via percebi que todas chapas haviam sido retiradas e todos parafusos quebrados. Eu estava com material para equipar então imediatamente reequipei a via. Quando voltei para o abrigo informei o ocorrido para um membro da AESC. Algum tempo depois apareceram três representantes da associação para falar do caso.

Logo no início da conversa, pensando ter sido vítima de vandalismo, perguntei se sabiam quem tinha martelado nossos parafusos. A resposta foi surpreendente: Quem retirou as chapas e martelou os parafusos foi a AESC. Inclusive pediram para tratar do assunto institucionalmente, considerando todos da associação como uma coisa só. Respeitarei o pedido e generalizarei sempre que possível.

De acordo com a AESC o motivo foi a regra de não poder cavar agarras. Realmente tínhamos ajustados duas ou três agarras em torno de quinze metros do chão. Não sou exatamente um defensor da técnica (usei duas vezes em torno de cinquenta vias conquistadas), mas admito que usamos dessa técnica na referida via, não negamos. Acontece que antes de colocar qualquer grampo na parede eu tinha procurado e não tinha encontrado nenhuma recomendação nem no site nem no Facebook da associação. Quando confrontados com o indubitável fato da inexistência da regra a acusação foi alterada (mesmo com a pena já aplicada). O problema não era mais as agarras ajustadas, e sim o fato de não termos avisado a AESC da nossa intenção de conquistar uma via.

Essa recomendação realmente está em uma placa em, pelo menos, uma entrada do parque. Porém, de acordo com o guia da AESC, são três as entradas e os setores são todos ligados por trilhas, de forma que o escalador pode usar qualquer entrada para chegar em qualquer setor. Dessa forma apenas uma placa contendo a regra é insuficiente, essa regra não está devidamente divulgada.

Acontece que nós seguimos as recomendações da UIAA que fala da importante comunicação com a comunidade local, e acreditamos termos sim respeitado essa recomendação. Antes mesmo da conquista inicial, informamos à AESC (verbalmente) que estávamos lá para “procurar um local adequado e, eventualmente, equipar uma via”. Assim que cheguei em casa escrevi um relato e mandei para a AESC. Estou usando a generalização requerida, mas vale informar que isso tudo foi informado para alguém que se declarou um membro “não tão ativo assim”, portanto um membro ativo. Inclusive um dia antes de reequipar a via, eu informei a AESC que eu ia “ver se estava tudo bem com a via que conquistei no ano passado”. A AESC ainda perguntou onde era essa via e eu expliquei que ficava “à esquerda da Gigante Pela Própria Natureza”.

A primeira acusação foi abandonada pela própria AESC por não “ter sido publicada em nenhum lugar”. A orientação de comunicação com a comunidade local, insuficientemente divulgada, foi respeitada, por iniciativa nossa, conforme relatado acima. Dessa forma acreditamos já estar claro tratar-se de uma via legítima.

***

A FEMESP escreveu, certa vez, recomendações para conquistas no complexo do Baú. Com muito bom senso a federação simplesmente separou as diversas paredes em grupos onde as vias existentes mantinham certo padrão e recomendou que as futuras conquistas seguissem as características das já existentes. Ainda assim, um escalador local foi lá e conquistou uma via claramente ignorando a recomendação e ainda colocou um nome um pouco agressivo.

Evidentemente que a comunidade não arrancou as chapas, a via continua lá, faz parte da nossa história. Mesmo aquele que menos gostou da via certamente vai lutar pela permanência da mesma, pois arrancar a via da parede feriria uma das duas regras que nunca vi alguém discordar:

- Não descaracterizar via alheia

- Não continuar projeto alheio com menos de dois anos de inatividade

Aqui cabe uma pergunta à AESC:

1 – A AESC reconhece a primeira regra?

Caso reconheça terá sido autoritária, pois não a respeitou. Caso não reconheça também terá sido autoritária por essa regra de bom senso estar acima de sua jurisdição.

Vale ainda destacar que não fomos chamados para nos defender, nem fomos informados da aplicação da pena. Afinal, nós tínhamos inclusive mandado o link com o relato da conquista original para a AESC, isto é, a AESC tinha como nos contatar.

Dessa forma acreditamos termos evidências suficientes no sentido de demostrar que que fomos vítimas de autoritarismo.

***

Diante das evidências apresentadas nos vemos obrigados, ao menos por enquanto, a declarar nossa via como um pièce de resistance contra o autoritarismo, a favor da escalada lúdica e a favor da liberdade de expressão, pois uma via é uma expressão humana, é ARTE!

Quando conquistamos a via achamos de bom tom seguir o tema da via do lado e escolhemos outro trecho do Hino Nacional. Até pensamos em mudar face aos eventos aqui descritos, mas o acaso fez com que o nome original se enchesse de significado:

Penhor dessa Igualdade

Boas escaladas

Cristiano Vianna


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